VER PELO DESENHO

"Desenhar é acima de tudo ver, observar, descobrir. Desenhar é aprender a ver, a ver nascer, crescer, desabrochar e morrer, as coisas e as pessoas. É preciso desenhar para que surja no íntimo o que foi visto e que fique gravado na nossa memória para toda a vida.

Desenhar é também inventar e criar. O fenómeno inventivo só acontece depois da observação. O lápis descobre, entra em acção para vos conduzir para lá daquilo que tenham ao alcance dos olhos. A biologia intervém então necessariamente porque toda a vida á biologia. É forçoso penetrar até ao própio coração das coisas através da pesquisa e da exploração.

O desenho é uma linguegem, uma ciência, um meio de expressão, um meio de transmissão de pensamento; o desenho, ao perpetuar a imagem dum objecto poderá ser um documento que contenha todos os elementos para evocar esse objecto mesmo depois do seu desaparecimento.

O desenho permite a transmissão integral dum pensamento sem o recurso a explicações escritas ou verbais. Ajuda o pensamento a cristalizar-se, a tomar corpo e a desenvolver-se. Para o artista, o desenho é a única possibilidade de se entregar sem constrangimento ás pesquisas do gosto, ás expressões da beleza e da emoção. O desenho é para um artista o meio pelo qual procura, enquadrinha, anota e classifica, o meio de se servir daquilo que deseja observar, compreender para depois traduzir e exprimir."

Le Corbusier (1965) em CORBUSIER, DESSINS
Edição de Forces Vives, 1968, Genève.